Celso Furtado, o maior economista brasileiro de todos os tempos

Li muito, muitíssimo, Celso Furtado para o meu livro e estou convencido de que é o maior economista brasileiro de todos os tempos. Texto elegante e preciso, tendo sido um cepalino não-cepalino, porque era, paradoxalmente, ele mesmo. Como Smith, Marx, Keynes, Schumpeter, Prebisch e Kaldor, Furtado era Furtado, fez teoria econômica, do subdesenvolvimento e do desenvolvimento, de maneira própria.
Estou convencido de que, na crí­tica de Maria da Conceição Tavares e José Serra a Furtado, de que era possí­vel crescer com concentração de renda, nos anos 1970 (embora nem Tavares nem Serra apoiassem tal estratégia, evidentemente), quem estava certo era Furtado. No curto prazo, era até possí­vel sustentar ciclos de crescimento, como os dos anos 1950 e 1970, este com aumento vergonhoso da desigualdade social, a despeito do expressivo aumento da produtividade. Mas no longo prazo, essa estratégia não assegura DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO (que é diferente de crescimento).
Os "Ensaios sobre a Venezuela" são a obra-prima de Furtado. O cara teoriza o que, mais tarde, W. Corden e P. Neary denominariam "doença holandesa", em alusão ao fenômeno ocorrido na Holanda, nos anos 1960, em que a descoberta repentina de gás natural provocou realocação excessiva de recursos para explorá-lo, levando, posteriormente, a um boom de exportações, à  sobrevalorização do antigo florim e à  desestruturação do setor manufatureiro holandês. Mas, esse fenômeno já havia sido precocemente teorizado pelas lentes precisas de Furtado, em 1957, em alusão ao que estava ocorrendo na Venezuela, no fim dos 1950, neste caso configurando um caso típico de maldição dos recursos naturais, devido à  apropriação (em grande parte, "indébita") da riqueza pela elite oligárquica do paí­s. Talvez pudéssemos renomear e passar a chamar o fenômeno de Venezuelan Disease, ao invés de Dutch disease!